Se Wanderlei fosse a Clara de Avenida Brasil, ele diria: ‘vocês não imaginam o prazer que é estar de volta’

E é justamente esse retorno triunfal que faz o cidadão tocantinense suspirar mas não de alívio.
Wanderlei Barbosa

A decisão que recoloca Wanderlei Barbosa no governo do Tocantins revela muito mais do que uma divergência jurídica entre tribunais superiores. Ela mostra o quanto a população segue sendo figurante de luxo em uma novela política que se repete há décadas.

Enquanto ministros discutem se o afastamento é “excessivo” ou não, o tocantinense comum enfrenta todos os dias aquilo que sim, é realmente excessivo:
• contas de energia entre as mais caras do país,
• água com tarifas que sobem mais rápido do que explicações oficiais,
• impostos que asfixiam pequenos comerciantes,
• serviços públicos que jamais correspondem ao que se paga,
• e uma classe política que, a cada escândalo, confirma a triste fama de ser uma das mais corruptas do Brasil.

E não é exagero. O Tocantins, desde sua criação, coleciona governadores afastados, presos, investigados ou citados em esquemas uma sucessão de capítulos que parece não ter fim. Trocam-se os protagonistas, muda-se o partido, mas o roteiro permanece intacto: contratos suspeitos, licitações tortas, empresas da madrugada e aquele velho enredo de “dinheiro público evaporou”.

Agora, com Wanderlei de volta graças a uma decisão monocrática, o estado revive a velha sensação de que, na disputa entre instituições, quem apanha mesmo é o contribuinte.

O ministro Nunes Marques afirma que prevalece a “legitimidade democrática”, como se o voto popular fosse uma blindagem contra investigações graves. Mas o mesmo voto que coloca um governante no poder é o voto de um povo que está cansado, endividado, pagando tarifas impagáveis e vivendo sob uma gestão que deveria protegê-lo e não ser investigada por supostos desvios de R$ 73 milhões em plena pandemia.

É irônico, para dizer o mínimo, falar em “excesso do Judiciário” quando o tocantinense sofre diariamente com o excesso de cobranças, taxas, aumentos, tarifas e abandono. Se existe intervenção desproporcional, ela acontece nas contas de luz, de água e nos impostos que consomem metade da renda de famílias que não veem retorno algum.

Enquanto isso, na novela real da política tocantinense, quase todos os mocinhos viram vilões, e quase todos os vilões retornam ao palco com um “plot twist” jurídico. E o cidadão fica ali, assistindo, pagando — e sofrendo.

Se Wanderlei volta dizendo que “é um prazer estar de volta”, o povo tocantinense talvez respondesse: prazer seria viver em um estado onde o dinheiro público tem destino honesto, onde a tarifa não dói, onde o governo não é protagonista de escândalos e onde justiça não parece sinônimo de conveniência política.

Mas, por enquanto, seguimos no mesmo capítulo. E o final feliz ainda não entrou na programação.

Deixe um comentário

Your email address will not be published.