18 de dez. 2025 às 13:13
A Polícia Federal afirma que o deputado federal Vicentinho Júnior (PP-TO) e sua esposa movimentaram R$ 170 milhões ao longo de seis anos por meio de uma empresa registrada em nome dela, apontada pelos investigadores como uma possível intermediária de pagamentos ilícitos, segundo relatório produzido no âmbito da Operação Overclean.
De acordo com a Polícia Federal, uma planilha apreendida no fim de 2024 com os empresários Fábio e Alex Parente indicaria um controle de repasses relacionados a um contrato da Secretaria de Educação do Tocantins. O documento, segundo a análise policial, contém o codinome “Vic”, com registros de pagamentos nas mesmas datas e com valores equivalentes aos repasses feitos pelos investigados à GMD Borba Distribuidora Eireli, empresa registrada em nome de Gillaynny Marjorie Duarte Borba de Oliveira, esposa do parlamentar.
Ainda segundo a investigação, a empresa Larclean foi contratada para prestar serviços de dedetização por R$ 13,6 milhões. Conforme apuração jornalística já publicada, os valores praticados chegaram a ser até 660% superiores aos preços de mercado. Desde a assinatura inicial, o contrato recebeu R$ 59,2 milhões em aditivos, de acordo com os registros analisados pela Polícia Federal.
Entre 2023 e 2024, a BRA Teles, empresa ligada aos irmãos Parente, repassou R$ 260 mil à GMD Borba Distribuidora, conforme dados bancários examinados na investigação. Considerando também repasses feitos por outros intermediários, a Polícia Federal aponta que Vicentinho Júnior e sua esposa teriam recebido, ao todo, R$ 420 mil dos empresários investigados.
No endereço informado à Receita Federal como sede da GMD Borba Distribuidora, em Sítio Novo do Tocantins, funcionam outros estabelecimentos comerciais. Em diligências no local, vizinhos relataram à Polícia Federal que se lembram vagamente de que ali teria operado uma distribuidora de bebidas há mais de dois ou três anos, sem atividade recente identificável.
O deputado afirmou à investigação que a empresa era uma distribuidora pertencente a seu sogro, que morreu em abril do ano passado. Os registros bancários, no entanto, mostram que os pagamentos feitos pela BRA Teles à empresa continuaram após a morte, segundo a Polícia Federal.
De acordo com o relatório policial, entre janeiro de 2019 e abril de 2025, a empresa em nome da esposa do deputado recebeu R$ 85 milhões em créditos e registrou o mesmo valor em débitos, totalizando uma movimentação de R$ 170 milhões. Para a Polícia Federal, esse padrão indica que a empresa teria funcionado como uma conta de passagem.
No caso específico dos pagamentos feitos pela BRA Teles e de outros repasses atribuídos aos empresários Parente, a Polícia Federal avalia que o destinatário final dos valores seria o próprio deputado. “É possível afirmar, com elevado grau de certeza, que os valores descritos na planilha de controle de pagamento de propina, relacionados ao codinome ‘VIC’, teriam sido, de fato, canalizados a Vicente Alves de Oliveira Junior, por meio da GMD Borba Distribuidora Eireli, registrada em nome da cônjuge do deputado federal”, afirma o relatório.
Apesar dessas conclusões, o pedido da Polícia Federal para o bloqueio de R$ 420 mil em bens de Vicentinho Júnior e de sua esposa foi negado pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal. Na decisão, o ministro afirmou que não havia elementos suficientes para comprovar a conexão direta entre os pagamentos à empresa da esposa do deputado e a suposta fraude licitatória. O magistrado também rejeitou pedidos de busca e apreensão relacionados ao caso.
A planilha apreendida também registra, segundo a Polícia Federal, repasses a outros investigados por suspeitas de fraude à licitação, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Os valores indicados incluem pagamentos mensais a ex-integrantes do governo do Tocantins e a um dirigente partidário, além de repasses que, no caso de um ex-secretário executivo da Educação, somariam R$ 4,4 milhões.
A defesa de Danilo de Azevedo Costa, ex-secretário de Educação do Tocantins, afirmou que não há ligação entre ele e o codinome “Dan” mencionado na planilha e que não existe prova de recebimento de valores ilícitos. Segundo a nota, ele deixou o governo estadual no fim de 2021 e não manteve vínculos posteriores com a administração. Os demais citados informaram, por meio de suas assessorias ou não responderam até a publicação, que o espaço permanece aberto para manifestações.
A Operação Overclean investiga uma rede de empresas ligadas aos irmãos Parente e ao empresário Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, suspeita de atuar em contratos públicos em diversos estados, incluindo Tocantins, Bahia, Goiás e Minas Gerais. No mesmo inquérito, pedidos de busca e apreensão contra outros parlamentares foram negados pelo Supremo Tribunal Federal por ausência de provas consideradas robustas. Os deputados mencionados negam envolvimento com o esquema investigado.
